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Por Joao Paulo Brasil • Real Seguro Viagem em 28/10/25 às 14:57.

De Brasília ao Maranhão de carro: um guia de viagem

Uma viagem de carro para o nordeste durante as férias é a realidade de muitos brasilienses. Seja para visitar os familiares, ou até mesmo sem motivo, o Nordeste é um dos principais destinos de brasileiros durante suas férias. 

A história da construção do território brasileiro se deve, em boa parte, ao povo nordestino. Tamanha força desse povo que, em 1960, liderados por nosso então presidente Juscelino, dubutaram brasília, sua capital e minha cidade desde pequeno.

Grande maioria do povo brasiliense é fruto do Nordeste, por isso a escolha do destino.  Sabemos bem como as praias do nordeste chamam a atenção de viajantes brasileiros, em especial do centro sul/sudeste, visto que ambas regiões possuem características bem distintas, e é justamente isso que atrai os viajantes. No entanto, hoje, vamos mais para o interior.

Seja de ônibus ou de carro, muitos brasilienses estão cientes de como as estradas que interligam esses estados, funcionam. Começando pelo norte do Goiás e passando por Tocantins, as chamadas estradas estaduais ligam até boa parte do nordeste, graças à Br-020 e demais rodovias radiais. 

Para a viagem, apreparação foi feita. O carro já estava na garagem, abastecido com etanol (o primeiro tanque, mais barato em Brasília), e o porta-malas, meticulosamente arrumado.

Uma mala de roupas, uma caixa térmica com água, refrigerante e sanduíches para a estrada, e uma bolsa menor com itens essenciais: carregadores de celular, um power bank (banco de energia), óculos de sol e, claro, comidas para beliscar.

O plano era simples: sair às 4h30 da manhã. Por quê tão cedo? Para pegar a saída de Brasília e o trecho de Formosa ainda no escuro, fugindo de qualquer tráfego pesado e, principalmente, para render o máximo possível no primeiro dia, antes que o sol do Tocantins ficasse insuportável.

Bom, agora indo ao principal ponto deste artigo: as estradas.

(Imagem | Arquivo Pessoal)


Saímos do DF (Taguatinga, mais exato), e fomos em sentido a Formosa, passando por São João D'Aliança e indo rumo a São Jorge, em território goiano. Ligar o carro às 4h30 da manhã tem um som diferente. O motor frio roncando na garagem vazia. Saímos pela EPTG, completamente deserta, pegamos a saída norte e logo estávamos na BR-020. Os primeiros 80 quilômetros até Formosa são de pista dupla, um asfalto excelente

O primeiro trecho, até Formosa, é de estrada boa, em grande parte duplicada. A paisagem é aquela que todo brasiliense conhece bem: o cerrado baixo, meio seco, com as árvores de galhos retorcidos. 

Passamos por Formosa, Goiás, ainda estava escuro. É aqui que a viagem realmente começa para quem vai sentido norte. Deixamos a BR-020 e entramos na GO-118. O sol começou a querer nascer, pintando o céu de um laranja pálido. A paisagem mudou instantaneamente: o asfalto ficou de pista simples e o cerrado, que antes era plano, começou a mostrar suas serras e vales.

Seguimos em direção a São João D'Aliança. A estrada aqui é boa, mas cheia de curvas. O dia clareou de vez, revelando a beleza da Chapada dos Veadeiros, mesmo que a distância. Você dirige vendo aquelas formações rochosas imensas, os paredões de pedra que guardam as cachoeiras. 

Passamos pela entrada de São Jorge, a vila que serve de base para a Chapada. Nossa parada não era lá, mas alguns quilômetros adiante, em um posto de gasolina pequeno, quase na beira da estrada. Era hora do primeiro café "de verdade".

Parar o carro e descer foi o primeiro choque: o silêncio. Um silêncio que só é quebrado pelo vento e um ou outro caminhão que passa. Pedimos um café coado e dois pães de queijo goianos, daqueles maiores, com a massa mais densa, quase "borrachenta" de tanto queijo.

Voltamos para a GO-118. O trecho seguinte, rumo a Campos Belos de Goiás, é o que eu chamo de "o fim do Goiás turístico". A estrada começa a piorar. Não de forma drástica, mas o asfalto fica mais remendado. As retas dão lugar a mais curvas e o cenário fica mais árido.

Campos Belos é a última cidade goiana estruturada nessa rota. É o ponto onde muitos decidem parar, mas para nós, era só uma passagem. Cruzamos a cidade, que tem aquele movimento típico de interior: muitas motos, comércio na rua principal e gente sentada na calçada. 

Deixando Campos Belos, o cenário muda de novo. O relevo fica mais acidentado. É um trecho que exige muita atenção do motorista. Não só pelas curvas, mas pelas "costelas de vaca" — aquelas ondulações no asfalto causadas pelo peso dos caminhões — que fazem o carro balançar inteiro. Se você estiver rápido, pode até perder o controle. É hora de reduzir a velocidade e ter paciência.

Imagem 

A divisa de Goiás com o Tocantins não é glamourosa. Não há um arco, nem uma placa grande de "Bem-vindo". A divisa é uma ponte velha e estreita sobre o Rio Paranã. Quando você cruza a ponte, o asfalto muda de cor e textura. Pronto. Você está no Tocantins.

A travessia para o Tocantins

(Imagem | Arquivo Pessoal)


Deixando a área da Chapada, continuamos pela GO-118 até Campos Belos de Goiás. Essa é a última cidade maior antes da divisa. É um trecho que exige mais do motorista. A estrada fica de pista simples e o asfalto já não é perfeito; aparecem buracos e ondulações que fazem a gente reduzir a velocidade e dirigir com mais atenção. Sem mencionar os radares.

A divisa entre Goiás e Tocantins é marcada por uma ponte sobre o Rio Paranã. Não há um grande portal, mas você sente que mudou de estado. A vegetação começa a ficar diferente, um cerrado mais alto, mais denso e mais verde.

Nossa primeira parada no novo estado foi em Arraias, uma das cidades mais antigas do Tocantins. Eram quase 11h00 da manhã. Ao abrir a porta do carro, a sensação foi imediata: um bafo quente. O ar seco de Brasília tinha sumido completamente, dando lugar a um calor parado, abafado, que parecia subir do asfalto. Foi como se tivéssemos aberto um forno.

Arraias é uma cidade histórica, com casarões antigos e ruas de pedra. Mas nosso foco era o almoço. Paramos em um restaurante simples, na beira da estrada, daqueles com prato feito. A TV estava ligada em algum programa de auditório. Para quem é de Brasília, o pequi é familiar, mas admito que sou exceção.

De lá, seguimos até pegar a BR-153, a famosa Belém-Brasília. Aqui, o perfil da viagem muda totalmente. A BR-153 é uma das rotas de carga mais movimentadas do Brasil. O fluxo de caminhões e carretas é constante, um atrás do outro. Você passa muito tempo dirigindo atrás deles ou esperando uma oportunidade segura para ultrapassar.

A BR-153 (Belém-Brasília) 

(Imagem | Google Maps)


Saindo de Arraias, dirigimos por estradas estaduais do Tocantins (TO-050) até encontrar a gigante: a BR-153, a famosa Belém-Brasília. Aqui, tudo muda. Confira aqui o mapa em tempo real! 

A viagem ganha uma nova dimensão. A estrada é o eixo principal que corta o Brasil de norte a sul, e o tráfego é quase inteiramente de caminhões. Caminhões bitrem, rodotrem, carretas de soja, de boi, de tudo. Nós, em um carro de passeio, éramos apenas um pequeno ponto no meio daqueles gigantes.

As retas são uma característica marcante. Retas que duram 10, 15, 20 quilômetros. Você olha para a frente e a estrada é uma linha cinza que desaparece no calor do horizonte. A paisagem é vermelha. A terra do Tocantins é de um vermelho-vivo, e a poeira que sobe dos caminhões impregna tudo.

Dirigir ali exige um tipo diferente de atenção. Não é sobre curvas, é sobre paciência e gerenciamento de risco. Você se vê constantemente atrás de uma fila de 10 caminhões, todos andando a 80 km/h. 

Para ultrapassar, é preciso ter certeza absoluta. Você espera, o carro embala, você joga para a outra pista, acelera tudo o que o motor tem, passa um, dois, três caminhões e volta para a sua faixa, com o coração um pouco acelerado. Repita isso dezenas de vezes.

Voltamos para a BR-153. O fluxo de caminhões já era intenso. O trecho de Guaraí até Araguaína, mais ao norte, é mais do mesmo. Retas longas, muito tráfego pesado. 

E então, a paisagem mudou de vez: lembro que começaram a aparecer os coqueiros de babaçu. Muitos deles. Aquelas palmeiras altas e cheias são o sinal claro de que você chegou ao Maranhão.

Chegada ao Maranhão

(Imagem | Arquivo Pessoal)


A Divisa e a Estrada da Soja. Nós não fomos até Araguaína. Um pouco antes, em Presidente Dutra, pegamos a saída para a BR-226. A divisa oficial entre Tocantins e Maranhão é sobre o Rio Tocantins, na cidade de Estreito

Mas o Maranhão é um estado gigantesco. Nosso primeiro destino no estado foi a região de Balsas. A estrada que leva até lá (MA-006) é conhecida como a "Estrada da Soja".

A estrada ali é usada para transportar esses grãos, então o asfalto é castigado pelo peso dos caminhões. Tem partes boas, recém-recapeadas, e partes bem ruins, que exigem paciência. De Balsas, saímos da rota principal e pegamos as estradas estaduais (MA-006 e depois a MA-012) para o nosso destino, Barra do Corda.

A travessia de balsa custa 25,00 reais para carros pequenos, de passeio. É necessário comprá-la no local! (Imagem | Arquivo)


Esse trecho final é diferente. As estradas são mais estreitas, o movimento de carros diminui muito e você começa a ver o Maranhão de verdade. Passamos por muitos povoados pequenos, com casas simples na beira da estrada. 

A chegada em Barra do Corda não tem nada de especial, como uma grande placa. A gente simplesmente entrou nas primeiras ruas da cidade. O calor era forte, mas era um calor úmido, diferente do que eu estava acostumado. Dava para ouvir o barulho do Rio Corda e do Rio Mearim passando perto do centro.

Depois de mais de 1.500 quilômetros e quase 24h de estrada, desligar o motor do carro ali foi um alívio imenso. A viagem foi longa, cansativa, mas foi real. Connheça mais:

(Imagem | Arquivo Pessoal)



A Volta, o cansaço, e uma nova perspectiva (Maranhão-Brasília)

Toda viagem de carro tem duas histórias: a da ida e a da volta. A ida é movida pela expectativa, pela novidade, pela ansiedade de chegar. A volta... a volta é outra coisa. Ela é movida pela saudade de casa e pelo desejo de voltar ao conforto da nossa própria cama. 

Saída de Barra do Corda (MA-012/MA-006)

(Imagem | Arquivo Pessoal)


Os primeiros quilômetros, saindo de Barra do Corda pela MA-012, são os mais tranquilos. A estrada é a mesma que nos trouxe, mas agora o sol nasce à nossa frente, ofuscando a visão.

Essa estrada estreita e cheia de remendos, que na ida pareceu uma aventura, na volta parece um obstáculo. A vontade é de acelerar, de chegar logo na rodovia principal, mas não dá. Os "jumentos" continuam lá, as motos continuam atravessando sem olhar. A paciência é a virtude principal do motorista nesse trecho.

Balsas e a Estrada da Soja (BR-226)

Depois de algumas horas, chegamos na MA-006 e, em seguida, na região de Balsas. O tráfego de caminhões graneleiros volta a ser intenso. Paramos em um posto em Balsas para completar o tanque. O calor era absurdo. O asfalto parecia derreter.

Seguimos pela BR-226 até a cidade de Estreito. O grande marco da saída é a ponte sobre o Rio Tocantins. É uma ponte imensa, e lá de cima, olhando a água barrenta e larga, dá um aperto no peito.

Do outro lado da ponte, já no Tocantins, pegamos o acesso e caímos nela: a Belém-Brasília. A BR-153. Se na ida ela era o desafio, na volta ela é o "monstro" conhecido.

A BR-153 (Rumo ao Sul)

A sensação de dirigir na BR-153 sentido sul é um pouco diferente. Os caminhões continuam lá, aos montes. As retas intermináveis continuam lá. O calor infernal do Tocantins continua lá. Mas agora, nós já conhecemos o caminho. Não há surpresas. O que há é um cansaço mental.

O sol, que nasceu na nossa frente, agora estava alto, a pino. O termômetro do carro marcava 38 graus lá fora. Aquele calor que você sente mesmo com o ar-condicionado ligado, vindo do assoalho do carro e do vidro do para-brisa.

O jogo de paciência com os caminhões recomeça. Fica na fila, espera o momento certo, ultrapassa três, quatro de uma vez, volta para a faixa. 

A regra do combustível: mais Importante do que nunca

Na volta, o peso extra faz o carro consumir mais. Não arriscamos em nenhum momento. As placas de "Próximo Posto a 100 km" são levadas muito a sério. Em uma dessas paradas para abastecer, no meio do nada, um silêncio absoluto. 

Só o vento quente e o barulho da bomba de combustível. Aproveitamos para trocar de motorista. O desgaste de dirigir na 153 é enorme.

Trecho final Belém-Brasília

Depois de horas na 153, finalmente pegamos a saída para a TO-050 e, em seguida, para as estradas que nos levariam de volta à divisa com Goiás. Quando cruzamos a ponte sobre o Rio Paranã, foi o primeiro grande alívio do dia. "Estamos em Goiás!".

Pegamos a GO-118. A mesma estrada sinuosa que passava pela Chapada dos Veadeiros. Mas a sensação era outra. Se na ida os paredões de pedra eram uma visão de aventura, na volta eles eram um portal. Eram o anúncio de que o Planalto Central estava nos recebendo de volta.

Passar por São João D'Aliança e ver a placa "Brasília - 180 km" foi o ponto de virada. A música no carro ficou mais animada. O cansaço deu lugar à ansiedade de chegar.

Formosa e o Asfalto Duplicado

Chegamos em Formosa no meio da tarde. A cidade, que é a "vizinha" de Brasília, já parecia ser a nossa garagem. O movimento intenso, o comércio. Paramos no último posto, mais por ritual do que por necessidade. Calibramos os pneus, que sofreram com o calor e o peso.

E então, pegamos a BR-020.

Depois de quase 3.000 quilômetros rodados (ida e volta), em pistas simples, esburacadas, disputando espaço com caminhões, entrar no asfalto duplicado da BR-020 foi como pousar um avião. Foi como se o carro respirasse aliviado.

Soltamos os ombros. A velocidade aumentou para os 110 km/h permitidos. Lembro da forma que o carro deslizava.

Começamos a ver os sinais familiares: a entrada para Sobradinho, a Torre de TV Digital no horizonte. O trânsito de Brasília no fim de tarde, que normalmente nos irrita, foi bem-vindo. Era o caos organizado de casa.

A Chegada: Entramos em Taguatinga. Passar pela EPTG, ver o Taguaparque. Cada semáforo, cada rua, era conhecida. Quando finalmente viramos na rua da nossa casa e o portão da garagem se abriu, o sentimento foi de missão cumprida. Estacionei o carro no lugar de sempre.

Refazer esse caminho, que tantos parentes e conhecidos fizeram para ir construir Brasília, me fez entender o tamanho do nosso país e o esforço que eles fizeram. Sem contar que tamanha tranquilidade só foi graças à contratação do seguro viagem nacional.