O cheiro inconfundível de Renato Russo aos sábados de manhã. O carro azul marinho reluzente estacionado na calçada, tampando a vista da rua como um escudo de memórias. Aquele gel de morango enjoativo que deixava o interior do carro com cheiro de infância. E a estrada — sempre a estrada.
Era num Logan que brilhava de tanto que meu pai lustrava aos finais de semana que eu aprendi o que significa liberdade. Acordar com a voz do Renato Russo era o sinal: era sábado. Minha mãe lavando o tapete vermelho quadrado, estilo persa (só que nosso). O Max latindo para a mangueira ligada. E eu, descendo as escadas sonolenta, com aquele sentimento quente no peito: é sábado.
— Tá lá fora lavando o carro — minha mãe dizia, sem nem olhar. Já sabia a pergunta.
Eu corria até a porta. O carro azul marinho brilhava sob o sol da manhã, intimidador quanto meu pai, mas cheiroso como promessa de aventura.
— Bença, pai, bom dia! Vamos para a casa da vó hoje?
E ele, sorridente: — Só se vocês se apressarem.
Eu e meus três irmãos ficávamos eufóricos. Ir para a roça, onde meus avós eram caseiros, significava mergulhar num mundo de cheiros e memórias que guardo até hoje.

Pé na Estrada
Eu sempre sentava no banco da frente — quando não precisava disputar com meu irmão mais velho, o Dudu. Como de costume, colocávamos a música da Alexia que era hit no momento: "uh la la la, I love baby, uh la la la la, me tonight". Cantarolávamos desafinados e felizes.
O carro do meu pai sempre quebrava na estrada. Parecia fazer parte do roteiro, mas até isso virava aventura. Nosso pedido silencioso era sempre o mesmo: se for quebrar, que seja no chão de terra, perto da barraca de Itubaina de saquinho. Delícia.
Chegávamos na casa da Vó Antonia com o rosto vermelho de fome e meu pai decepcionado pelo carro ter pifado de novo. Mas a gente? A gente estava radiante.
A roça dos meus sonhos
O chão era vermelho, daqueles que mancham o pé. Nos quartos, aqueles mosquiteiros coloridos de tule — às vezes amarelo, às vezes rosa, às vezes azul. Eu me sentia numa cama de princesa.
No quarto ao lado, ficava o quarto de costura da minha vó. Aquela máquina com roda era meu lugar favorito no mundo inteiro. No fundo do cômodo, uma porta engraçada de madeira que abria só a parte de cima. Eu me escorava ali, olhando o quintal: patinhos nadando num fio de lago, uma árvore de caqui carregada, o cheiro forte da criação de porcos misturado com terra molhada.
Ali, sentada na roda da máquina de costura, pisando no pedal e girando aquela roda de um lado para o outro, a mágica acontecia.

E de repente: África do Sul
Pisando no pedal, girando a roda, pof! — de repente estou na estrada para a África do Sul.
A estrada é linda. As árvores acenam. O clima subtropical faz o sol esquentar, o asfalto brilhar. Calor. Preciso de água. Paro para beber, abaixo o vidro da janela e ali está: uma girafa me encarando, mastigando de um lado para o outro. Penso que ela também esteja com sede, mas logo se afasta ao me ver ali, paralisada com minha garrafa de água.

Volto para a estrada. Ligo o rádio. Está tocando Clube da Esquina nº 2. O clima fica inconfundível. A brisa no rosto, mesmo pingando de suor. Olho para o céu azul, com nuvens que parecem contornar um rinoceronte. Milton Nascimento cantarola sem esforço: "uuuh uuuh uuuh".
Em seguida, Lô Borges entra cantando Paisagem da Janela: "vejo uma igreja, um sinal de glória, vejo um muro branco, e um voo de pássaro..."
Cantando junto, avisto uma lanchonete na beira da estrada com uma placa chamativa: Biltong aqui!
— É tipo carne seca curada, parecida com a que sua vó fazia — explica o senhor de boné azul, camisa branca meio encardida, com sorriso familiar.
Peço um refrigerante para acompanhar. Ele me entrega a minha memória nostálgica: Itubaina no saquinho.
Sento numa cadeira branca de plástico ao lado da barraca. A vista é inconfundível. Um safári de camarote, de graça. Enquanto o senhor prepara meu lanche, conta sobre a vez em que uma zebra invadiu a barraca dele.
Encaro aquela paisagem amarela, a diversidade do mundo tão perto e palpável. Dá vontade de correr em direção à savana. Respeito meu pensamento intrusivo e corro.
— Esperaaaa! Você não pagou e esqueceu de pegar sua comida! — grita o senhor.
— Calmaaa! Meu carro tá aí e eu já volto, só preciso sentir...
— Sentir? Sentir o que, Bia? — minha vó me chacoalha, pedindo para eu acordar. O almoço está pronto.
Essa foi a viagem mais próxima que fiz da África do Sul. E, sinceramente, preciso voltar. Ou melhor: preciso ir de verdade. E que seja para dirigir naquela estrada que parecia mágica.
Mas e quando o sonho vira realidade?
Se você, como eu, sonha em fazer um rolê de estrada (vamos trocar esse "roadtrip" por algo mais nosso, né?) pela África do Sul, prepare-se para uma aventura de tirar o fôlego. Mas antes de cair na estrada de verdade, tem uns detalhes que não dá pra ignorar.
Vamos ao que interessa: como dirigir na África do Sul de verdade, sem perrengue?

Documentos necessários para dirigir na África do Sul
1. Permissão Internacional para Dirigir (PID)
A PID é obrigatória para brasileiros que querem dirigir na África do Sul. Ela funciona como uma tradução oficial da sua CNH em nove idiomas (incluindo inglês, que é o que mais importa por lá).
Como tirar a PID?
Você tem duas opções:
Opção 1: Pelo DETRAN do estado onde sua CNH foi emitida
- O valor e o processo variam por estado
- Em São Paulo, por exemplo, pode custar mais de R$ 399
Opção 2: Pelo site do Automóvel Clube Brasileiro (ACBr) - carteirainternacional.org
- 100% online
- Preço fixo de R$ 243 (mais frete) para todo o Brasil
- Processo mais rápido e prático
A PID tem a mesma validade da sua CNH brasileira e deve ser apresentada junto com ela e com o passaporte sempre que você for dirigir. Saiba como tirar sua PID aqui!
2. CNH Brasileira (versão física)
A CNH digital geralmente não é aceita pelas locadoras. Leve sempre a versão física impressa, dentro do prazo de validade.
3. Passaporte Válido
Seu passaporte deve estar válido por pelo menos 30 dias após a data de saída do país. Leve sempre com você no carro.
4. Cartão de Crédito Internacional
As locadoras exigem cartão de crédito internacional em nome do condutor principal para o bloqueio da caução.
5. Certificado Internacional de Vacinação contra Febre Amarela
Embora não seja necessário para dirigir, é obrigatório para entrar no país. Vacine-se com pelo menos 10 dias de antecedência. Entenda como tirar o seu CIVP!
Mão Inglesa: É tão difícil quanto parece?
Respira fundo: não é tão assustador quanto você imagina. Na África do Sul, o volante fica do lado direito do carro e você dirige pela pista da esquerda.
Dicas para se adaptar:
- Alugue um carro com câmbio automático — isso facilita MUITO, porque você só precisa se concentrar na estrada
- Nos primeiros dias, você vai abrir a porta errada do carro umas mil vezes (é normal!)
- Use como mantra mental: "mantenha o motorista no meio da pista"
- As ultrapassagens são pela direita (oposto do Brasil)
- Atenção redobrada ao fazer conversões, principalmente rotatórias
Em poucas horas, o corpo se acostuma. Viajantes relatam que depois do primeiro dia já fica natural.
Regras de trânsito na África do Sul
- Tolerância zero para álcool: não beba nada se for dirigir
-
Limites de velocidade:
- Cidades: 60 km/h
- Estradas secundárias: 100 km/h
- Autoestradas: 120 km/h
- Fiscalização rigorosa: há muitas blitze nas estradas. Tenha sempre PID, CNH e passaporte em mãos
- Pedágios: muitas rodovias são pedagiadas
- Use cinto de segurança sempre, inclusive no banco traseiro
Melhor época para o seu rolê de estrada
A África do Sul pode ser visitada o ano todo, mas a melhor época depende do que você quer fazer:
Verão (Dezembro a Março)
- Temperaturas entre 20°C e 30°C
- Ideal para praias, Cidade do Cabo e a Garden Route
- Alta temporada, então espere mais turistas e preços mais altos
- Pode chover no Kruger National Park
Outono (Março a Maio)
- Clima ameno e agradável
- Perfeito para as vinícolas de Stellenbosch
- Menos turistas, preços melhores
- As paisagens ganham cores outonais lindas
Inverno (Junho a Agosto)
- Melhor época para safáris no Kruger
- Vegetação mais baixa facilita avistar os Big Five
- Temperaturas entre 10°C e 25°C
- Pode chover e fazer frio na Cidade do Cabo
Primavera (Setembro a Novembro)
- Setembro é considerado o melhor mês para visitar o país
- Flores desabrochando, clima agradável
- Boa época tanto para safáris quanto para a costa
- Menos multidões que o verão
Rotas cênicas imperdíveis: onde a estrada é a estrela
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1. Garden Route (Rota Jardim)
A rota mais famosa da África do Sul vai de Mossel Bay até Storms River (cerca de 300 km oficiais), mas todo mundo estende até a Cidade do Cabo, totalizando uns 850 km de pura beleza.
Paradas imperdíveis:
- Mossel Bay: mergulho com tubarões brancos
- Knysna: capital mundial das ostras, com vista deslumbrante das "The Heads"
- Plettenberg Bay: praias paradisíacas e observação de baleias
- Tsitsikamma National Park: trilhas, cachoeiras e pontes suspensas
- Hermanus: o melhor lugar do mundo para avistar baleias (junho a novembro)
Tempo recomendado: 5 a 7 dias (4 é o mínimo, mas vai ficar corrido)
Experiências únicas:
- Bungee jump de 216 metros na Bloukrans Bridge
- Santuários de elefantes e leões resgatados
- Grutas Cango Caves com estalactites impressionantes
2. Panorama Route (Rota Panorâmica)
Caminho cênico de 72 km pela R532, na região de Mpumalanga, que corta o Blyde River Canyon (terceiro maior cânion do mundo).
Destaques:
- God's Window: mirante a 800 metros de altura com vista surreal
- Bourke's Luck Potholes: formações rochosas esculpidas pela água
- Three Rondavels: rochas que parecem cabanas tradicionais africanas
- Mac Mac Falls: cachoeira com história da corrida do ouro
Tempo recomendado: 1 dia (pode ser combinado com o Kruger)
Base ideal: Graskop, Sabie ou Hazyview
3. Route 62
Alternativa à Garden Route, essa estrada passa pelo interior semi-desértico e é repleta de vinícolas charmosas.
Aluguel de Carro: Dicas práticas
- Reserve com antecedência para garantir o melhor preço
- Use comparadores como RentCars para encontrar as melhores ofertas
- Opte por câmbio automático (eu sei que já falei isso, mas é MUITO importante!)
- Verifique se o seguro está incluso (geralmente o básico vem junto)
- É possível pegar o carro em uma cidade e devolver em outra (ex: Joanesburgo → Cidade do Cabo), mas há taxa extra
- Inspecione o carro antes de sair — tire fotos de qualquer arranhão
Média de valores: A partir de R$ 150 por dia para carros econômicos
Internet no Celular: essencial para navegar
Ter internet é fundamental. As estradas sul-africanas são bem sinalizadas, mas o Google Maps vai salvar sua vida nos desvios e paradas. Saia do Brasil já conectado com eSIM ou chip físico com a Real!
Baixe os mapas offline no Google Maps ou use o app Maps.me como backup.
Segurança na estrada
A África do Sul tem fama de ser perigosa, mas com alguns cuidados você viaja tranquilo:
- Evite dirigir à noite nas grandes cidades
- Mantenha as portas do carro travadas
- Não deixe objetos de valor à vista
- Abasteça sempre que possível e em postos movimentados
- Se alguém tentar te parar na estrada, não pare — vá até um posto de gasolina ou local movimentado
- Nas grandes cidades (Joanesburgo, principalmente), evite parar em semáforos em áreas isoladas à noite
A boa notícia: as estradas turísticas (Garden Route, rota para o Kruger) são muito seguras e bem conservadas.
Quanto custa um rolê de estrada pela África do Sul?
Estimativa para um casal (10 dias):
| Item | Valor aproximado |
|---|---|
| Aluguel de carro (10 dias) | R$ 1.500 - R$ 2.000 |
| Gasolina (1.100 km) | R$ 600 - R$ 800 |
| Hospedagem (média) | R$ 3.000 - R$ 4.500 |
| Alimentação | R$ 2.000 - R$ 3.000 |
| Passeios e entradas | R$ 1.500 - R$ 2.500 |
| Total | R$ 8.600 - R$ 12.800 |
Dá para economizar hospedando-se em lugares self-catering (com cozinha) e fazendo suas próprias refeições.
Seguro viagem: Não viaje sem!
Olha, não dá pra falar de viagem internacional sem falar de seguro. E não é só porque é obrigatório (spoiler: não é, para a África do Sul), mas porque você vai querer dirigir, fazer trilhas, talvez até mergulhar com tubarões. Se algo der errado, o custo de atendimento médico por lá pode arruinar sua viagem (e suas finanças).
A Real Seguro Viagem é a primeira comparadora de seguros do Brasil e já assegurou mais de 2 milhões de viajantes. Com ela, você compara as principais seguradoras do mercado e escolhe a opção que melhor se encaixa no seu bolso e nas suas necessidades.
Por que contratar um seguro:
- Cobertura médica para emergências
- Assistência em caso de extravio de bagagem
- Cobertura para acidentes durante atividades (safáris, trilhas, esportes aquáticos)
- Suporte 24 horas em português
Dica esperta: Ao contratar pelo Real Seguro Viagem, você pode parcelar em até 12x e ainda comparar coberturas de forma clara e objetiva.
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Meu checklist de viagem: Para não esquecer nada
Documentos:
- Passaporte (válido por mais de 30 dias após a viagem)
- CNH física (válida)
- PID (Permissão Internacional para Dirigir)
- Certificado de Vacinação contra Febre Amarela
- Cartão de crédito internacional
- Comprovante de reserva das hospedagens
- Passagens aéreas (ida e volta)
- Seguro viagem para África
Essenciais:
- Seguro viagem contratado
- Chip de internet
- Carregador veicular para celular
- Óculos de sol
- Protetor solar (o vento engana, mas o sol queima!)
- Casaco (mesmo no verão, para o vento na Cidade do Cabo)
- Binóculos (para os safáris)
A estrada me espera (e você também)
Sabe aquela sensação de acordar num sábado, ouvir Renato Russo e saber que a estrada te espera? É isso que a África do Sul promete. Só que em versão amplificada, com girafas cruzando seu caminho, savanas que parecem pinturas, estradas que contornam o oceano e pores do sol que fazem você parar o carro só para respirar.
Eu ainda não fiz essa viagem "de verdade". Mas quando for — e vai ser em breve — vou lembrar de todas as vezes que girei a roda da máquina de costura da minha vó e me imaginei naquela estrada mágica.
A diferença é que dessa vez, o carro não vai quebrar no meio do caminho (espero!), e em vez de Itubaina de saquinho, vai ser um bom vinho sul-africano para brindar.
A estrada está esperando. E você, tá pronto pra cair na Real dela?
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Artigo escrito com carinho, memórias afetivas e muita pesquisa. Porque viajar é sobre sentir — e dirigir pela África do Sul é sentir em cada curva da estrada.


