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Cachoeira do Correntino: conheça mais sobre os indígenas potiguaras!

Você provavelmente nunca ouviu falar da Cachoeira do Correntino. Eu também não conhecia até passar 6 meses morando em Natal, capital do Rio Grande do Norte.

Mas essa experiência foi, para mim, muito além de uma simples visita a uma cachoeira.

Nesse dia eu mergulhei na história, cultura e ritos dos indígenas potiguaras que habitam a costa do Rio Grande do Norte, Paraíba, Ceará e Pernambuco. Vem comigo conhecer essa história!

Pajé Sanderline sorrindo durante ritual de cura
Através de um turismo respeitoso é possível conhecer mais sobre os indígenas e ajudá-los a proteger sua cultura, história e território. (Fonte: Arquivo Pessoal)


Onde fica a Cachoeira do Correntino?

A Cachoeira do Correntino fica no município de Rio Tinto, na Paraíba, já bem pertinho da divisa com o RN. Ela é um pequeno fragmento do complexo das águas do Rio Tinto, que leva esse nome devido a coloração das suas águas. A cor vermelha aparece por conta da sedimentação de folhas típicas da região.

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A cachoeira do Correntino fica na Terra Indígena Potiguara e é bem facinho de chegar. Acompanhe para saber os detalhes!

Como chegar em Cachoeira do Correntino e em Rio Tinto?

A Cachoeira do Correntino fica num acesso pela BR 101, bem pertinho do posto da Polícia Rodoviária Federal. Apesar de ser uma trilha curta, com cerca de 1,5 km partindo da rodovia, recomendo que vá com um guia.

Primeiro porque é uma área de proteção ambiental e cuidados devem ser tomados. Segundo porque há algumas bifurcações no caminho e lamaçais que podem confundir quem não está habituado.

E, por último, vale mencionar que essa é também uma imersão cultural, então estar guiado por alguém que realmente entende do lugar torna a experiência totalmente diferente.

Nós fomos em um passeio organizado pelo Capitão Amarelo e acompanhados pela Pajé Sanderline e isso foi determinante para nossa vivência.

Nossa experiência na Cachoeira do Correntino

Sai junto com meu companheiro bem cedinho de Natal (encontramos o pessoal do Capitão Amarelo na Agaé, quem é de Natal já sabe que esse é o ponto de encontro dos passeios) e seguimos para a Cachoeira do Correntino.

O micro-ônibus que estávamos encontrou a Pajé Sanderline no meio do caminho e fomos direto para a trilha.

Pedimos permissão para entrar na floresta e logo estávamos na mata densa. Sanderline foi cantando enquanto íamos descendo, entrando no lamaçal e nos conectando. Até para os menos espiritualizados o momento é mágico.

Pajé Sanderline guiando o grupo na mata
A experiência de conhecer a cachoeira sob a perspectivas dos nativos é muito mais intensa (Fonte: Arquivo Pessoal)


Dá para sentir a energia da floresta e depois de um trecho mais íngreme, chegamos na cachoeira.

A queda principal não é tão grande, mas tem bastante força. Mais para frente tem uma outra queda que é uma nascente.

As paredes da cachoeira tem argila branca e já dá para aproveitar para fazer o skincare! Arrumamos em uma toalha o nosso café da manhã comunitário. Tudo estava uma delícia! E depois de curtimos o banho de cachoeira começamos o ritual de cura com a Sanderline.

Pajé Sanderline iniciando o ritual de cura com defumação de ervas
Além de aproveitar o lugar, fizemos uma imersão na cultura indígena. (Fonte: Arquivo Pessoal)


Ela é uma pessoa de muita sabedoria, mas daquelas que passa os seus saberes da forma mais fácil possível. Sem complicações. Mas em uma simples conversa com Sanderline você aprende coisas que mudam sua vida.

Ficamos na cachoeira até perto do horário do almoço, quando agradecemos por tudo e partimos em direção a cidade de Rio Tinto.

Rio Tinto

No caminho o guia do Capitão Amarelo e Sanderline foram contando mais sobre a história dos indígenas potiguares daquela região e sobre a dominação da família Lundgren, que massacrou muitas aldeias por ali.

A família Lundgren foi responsável por implantar fábricas têxteis nas cidades de Rio Tinto, na Paraíba, e em Paulista, em Pernambuco. Sob o pretexto desenvolvimentista, o patriarca da família, Herman Lundgren, construiu “fábricas com vilas operárias” nessas duas cidades, dominando não somente as horas de trabalho, mas toda a vida dos funcionários.

A exploração aos indígenas era marcante, onde a crueldade de Herman era conhecida em toda a região. O declínio dos Lundgren começou com a vitória dos Aliados sobre os nazistas na Segunda Guerra, visto que eles eram apoiadores desse regime.

Porém, a luta se prolonga e em 2017 herdeiros da família Lundgren acionaram a Justiça para o despejo de 1.200 famílias da cidade de Rio Tinto.

Atualmente os indígenas que ali vivem buscam restabelecer suas terras e também sua cultura.

No casarão que pertencia a família Lundgren está sendo construído um memorial dos potiguaras.

Fizemos um rápido passeio na praça principal da cidade, onde vimos a enorme igreja com arquitetura gótica construída pelos Lundgren, que inclusive tem símbolos nazistas.

Igreja com arquitetura gótica na cidade de Rio Tinto, na Paraíba
Apesar de pouco conhecida, a cidade de Rio Tinto foi e é palco de lutas importantes (Fonte: Arquivo Pessoal)


Avistamos também algumas preguiças nas grandes árvores. Uma distração mais leve entre essa história tão pesada.

Praia de Coqueirinho do Norte

Depois de conhecer Rio Tinto, partimos para a Praia de Coqueirinho do Norte, onde almoçamos. O pessoal do Capitão Amarelo organizou tudo em uma barraca de praia que infelizmente não lembramos o nome.

Quando chegamos a comida farta já estava posta e recarregamos as energias. O almoço não estava incluso no pacote, mas custou R$ 25,00 por pessoa e era no estilo buffet livre.

Depois de comer até não poder mais, ficamos na praia até o pôr do sol.

Por sinal, a praia é super tranquila e muito bela. Andando mais para a direita tem o encontro do rio Caieiras com o mar, onde vimos o sol se pôr.

Lá, Sanderline nos contou sobre a lenda das bruxas de Coqueirinho, que segundo o conto viajavam várias léguas em busca de sementes e novas plantas. Elas pegavam os barcos dos pescadores durante a madrugada e iam cantando:

"Rema, rema, minha cumade, que cada remada já é uma légua."

Depois retornavam de suas longas viagens com espécies novas nunca vistas na região de Coqueirinho. Vocês podem ler mais sobre as histórias dessa região nos livros "É história viva, num é história morta" e "Histórias Ancestrais do Povo Potiguara".

Após o pôr do sol retornamos para Natal. Cansados e maravilhados com a quantidade de histórias, contos e cultura escondidos no nosso Brasil.

Pôr do Sol na Praia de Coqueirinho do Norte, na Paraíba
A praia de Coqueirinho do Norte é tranquila e bem vazia, ideal para relaxar (Fonte: Arquivo Pessoal)


Outros destinos na Costa Potiguara

Ali naquela região ainda há vários outros passeios interessantes e muitos deles são organizados pelas tribos potiguaras que vivem por ali.

O próprio Capitão Amarelo tem alguns outros passeios, como para Baía da Traição, local onde ocorreu uma importante batalha entre os potiguaras e as tropas do português Gonçalo Coelho.

É isso pessoal! Caso visitem a região, não deixem de respeitar os costumes e a biodiversidade do local. Lembre-se que para os povos que vivem ali a mata é sagrada, e também é moradia e sustento.

Fora isso, aproveitem e aprendam muito sobre essa região tão rica!

Para conhecer mais sobre destinos no Brasil e no mundo é só acompanhar o blog da Real!