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Por Antonia Beatriz Pires • Real Seguro Viagem em 29/08/25 às 14:24.

Festivale 2025: Entre minhas raízes e o Vale do Jequitinhonha

No meu processo de formação na graduação, enfrentei o desafio de redescobrir como devolver as ferramentas que conquistei. Sou a primeira filha a se formar em uma universidade federal, e precisei abrir caminho para que os meus também possam vir. Essa trajetória é feita de passos para frente, mas também de voltas às origens.

Foi assim que encontrei o Festivale, ou melhor, que ele me encontrou. Porque falar de quem sou, de onde venho e da minha reconexão com os ancestrais é também falar de cultura popular. E o que a minha história tem a ver com o Festivale? Tudo.

40° do Festivale aconteceu em Diamantina

Raízes e formação

Venho do União de Vila Nova, Zona Leste de São Paulo, distrito de Vila Jacuí, também conhecido como “Pantanal”, por estar em área de várzea. O bairro, fundado em 1987, reúne cerca de 32 mil moradores vindos do Norte, do Nordeste e de tantas outras regiões do Brasil. Cada família trouxe sua cultura e seus saberes, e foi assim que aprendi um pouco de cada.

Minha mãe, baiana de Dário Meira-Ba, cozinhava cantando as cantigas que herdou da família. Minha avó paterna, também baiana, me ensinava chás, orações e me deixava explorar o sítio onde era caseira, entre galinhas, patos e porcos. Foi nesse chão que aprendi a valorizar os saberes ancestrais.

No União, também participei de projetos sociais que me abriram portas para a arte. Oficineiros de diferentes países compartilhavam suas culturas e musicalidades, vivendo conosco um turismo de base comunitária. 

Cresci nesse ambiente e me inspirei em Glória Maria, que mostrava culturas e vivências do Brasil e do mundo. Foi quando decidi que queria ser jornalista: para contar histórias nascidas do chão, do saber popular, da regionalidade.

O convite e a chegada ao Festivale

Nesse caminho, minha amiga Laura Beatriz, jornalista e pesquisadora sobre regionalidades, foi um sustento. Ela se formou antes de mim, entendeu o que eu sentia e me convidou a mergulhar mais fundo na cultura popular. 

Foi dela também o convite para participar do Festivale, que em 2025 aconteceria em Diamantina, Minas Gerais.

Só de ouvir o nome da cidade, imaginei o cenário: as feiras artesanais, a musicalidade, a dança, o folclore mineiro. Pensei na riqueza do Vale do Jequitinhonha, berço de artistas, poetas, ceramistas e escritores.

Laura Beatriz e Antonia Pires (Arquivo Pessoal)

O Festivale: História e resistência

O FESTIVALE nasceu em 1980, em Itaobim, a partir do jornal Geraes, fundado por jovens de Itaobim e Pedra Azul. O objetivo era dar visibilidade à riqueza cultural do Vale do Jequitinhonha. Na primeira edição, o festival consagrou Paulinho Pedra Azul e a música Ave Cantadeira.

Desde então, o evento se tornou itinerante e referência de resistência cultural, já passando por mais de 25 cidades do Vale. Em cada edição, durante sete dias, o Festivale promove:

Noite literário na UFVJM - Festivale (Imagem:Arquivo)

Minha vivência em Diamantina, Minas Gerais

Na edição em Diamantina, vivi intensamente esses espaços.

A Noite Literária na UFVJM foi mágica, reunindo artistas com obras potentes, como Apanhador de Memórias (Daiany Nayara), Do Rio ao Mar (Vítor Barreto) e Quando Eu Morrer, Me Faça Ser Rio (Alief Murta). Senti como se estivesse diante de uma nova Semana de Arte Moderna, mas com vozes que nascem do Vale.

Também assisti ao Coral Veredas, participei de debates com mestres e mestras da cultura popular e ouvi pautas urgentes sobre fomento e preservação da cultura. 

Oficineiros apresentaram o Boi de Janeiro, tradição fundamental da região, e lideranças indígenas e quilombolas compartilharam seus saberes.

Debate no Comitê de Cultura

Assim que acordamos, fomos tomar café e, à tarde, sabíamos que ia ter programação. Por um instante, vencida pelo cansaço, cogitei ir apenas para as apresentações que aconteceriam à noite. 

Não havia me atentado à programação do comitê, mas Laura, sempre atenta, falou: "vamos ao debate do comitê de cultura, é necessário". O pulo logo se apresentou, é claro. E ainda bem que fui.

No comitê havia uma roda com várias pessoas reunidas: mestres, mestras, lideranças indígenas, quilombolas, produtores culturais, oficineiros, artistas, fazedores de cultura.

Foi um debate extremamente importante. Nossos ancestrais estavam ali presentes: aqueles que fomentaram, por tanto tempo, os saberes populares, o folclore mineiro, as cantigas, as ervas medicinais, a produção orgânica, a cultura popular que não pode ser apagada.

Mas tem faltado recursos para que as folias de reis, o cortejo do boi-de-janeiro, os artistas continuem nesse caminho de partilha que mantém vivas nossas memórias. 

Cultura é renda, emprego, saúde, caminho, sentido. E, se falta incentivo, falta também o fortalecimento das raízes que sustentam nossa história.

Debate sobre cultura popular no Comitê de Cultura - Vale do Jequitinhonha (Imagem: Arquivo)

Benção das Águas

Estava imersa nas atividades que o Festivale promovia: vivenciar a cultura popular, observar as características de cada folião, acompanhar os cortejos. Cada encontro era único. Quando se está de coração aberto para ser atravessado pela singularidade de cada povo, a gente sai abastecida de conhecimento e entende, de forma genuína, o que é viajar.

No momento de vida em que estou, recém-formada, percebo que é natural buscar caminhos de devolutiva. É também um processo de autointimidade, de retrospecto, de se conhecer. Nesse caminho de fortalecimento identitário, ter tido a oportunidade de viver o Festivale foi profundamente simbólico. 

Porque é assim: cada contato com outras vivências dá sentido à vida e faz com que as ferramentas que adquiri na academia se transformem em algo maior, enraizado.

A espiritualidade sempre me acompanhou, se manifestando de diferentes formas ao longo da minha trajetória. Em Minas, senti ainda mais forte esse encontro, em cada casa, em cada prática, a fé se expressa de maneira viva, cotidiana. E por que falar da espiritualidade? Porque no Festivale acontece o cortejo da Benção das Águas.

Esse cortejo é mais que ritual: é uma afirmação de que o saber ancestral é cultura popular. É memória, troca, afeto, vitalidade. Foi assim que me senti. Participar me colocou diante de pessoas queridas, como a escritora Elza Soalheiro e a artista e educadora social Marina Maricota. Com elas, compartilhei trocas que ficarão guardadas, relembradas, contadas. A espiritualidade tem dessas: conecta a gente com pessoas que importam.

Cortejo Bênção das Águas - Festivale (Imagem: Arquivo)

O cortejo me atravessou. Ali, me senti inteira, conectada. Foi um momento de reafirmar quem sou, meus valores, o sentido que quero dar ao meu caminho. E é tão bom se encontrar dentro da própria profissão. 

Lavei meu rosto com a água de cheiro e ainda consegui trazer um pouco dela para casa, como lembrança e força de limpeza. Memorável, guardado com carinho e com caminho.

Folia de Reis, Boi de Reis e Congo

No nosso último dia de Festivale, tivemos o privilégio de acompanhar a Mostra de Grupos de Cultura Popular Geraldo Domingos. Foi lindo, único e profundamente marcante.

Entre tantas apresentações, conhecemos uma família muito querida que integra um grupo de Folia de Reis. O mais surpreendente é que o mestre que comanda a folia tem apenas 7 anos de idade. Durante o desfile, ele conduzia os foliões com firmeza e alegria. Ver uma criança assumir essa liderança foi como testemunhar o futuro se enraizando no presente.

Numa entrevista para a Rede Minas, ele contou que aprendeu sozinho a comandar a folia, porque, segundo suas palavras, “se os foliões me comandarem, a folia de reis não ia viver”


E com essa segurança de mestre, explicou que além de tocar flauta, caixa e samba, também se dedica à construção dos elementos que dão vida ao boi: do bambu ao papelão, da cabeça de boi às fitas coloridas.


O mais novo Mestre de Folia de Reis tem apenas 7 anos (Imagem: Arquivo)

Esse encontro foi uma das imagens mais fortes do Festivale: a força da tradição se renovando nas mãos pequenas de uma criança, mas já carregadas de memória, saber e responsabilidade. 


Cada grupo que se apresentou, de Folia de Reis, de Boi de Reis, de Congo, trouxe características próprias, ritmos, cores e vozes que permanecem vivas enquanto escrevo. Mais que registros, ficaram gravadas como imagens que se tornam quase visíveis pela força da lembrança. No fim, viver o turismo é isso: se deslocar, se permitir, aprender, viver e devolver

Escrevivência e futuro

Ah, e sobre Diamantina? Escrevi tudinho nesse artigo aqui: o que fazer em Diamantina-MG. Está lindo de ver e viver.

Viva o Festivale. Viva o Vale do Jequitinhonha. Viva Diamantina. Viva nossos saberes ancestrais, viva a cultura popular. Viva viajando, atravessando, permitindo que o corpo siga o curso do rio.

E que alegria poder representar a Real Seguro Viagem nessa jornada. Quando entrei para a Real ainda como estagiária, foi tão emocionante quanto viver o Festivale. 

Na entrevista, conheci os sócios e Hugo se emocionou ao ouvir minha trajetória e meu propósito de vida. O mais curioso é que, depois de formada, esse propósito permanece o mesmo: seguir vivendo esse caminho que sempre foi meu.

A Real acreditou em mim desde o início, valorizando princípios sociais como prioridade, e hoje, formada e jornalista, pude concretizar e reafirmar meu lugar aqui. Me sinto privilegiada por estar ancorada em uma empresa que não só prega, mas vive esses valores no dia a dia.

A Real me assegurou, e se você também quer viajar protegido e tranquilo, faça sua cotação e descubra o seguro ideal para sua próxima vivência. Boa viagem, boa vivência.