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Por Antonia Beatriz Pires • Real Seguro Viagem em 03/06/25 às 11:28.

Saneamento Básico, o Filme: onde foi gravado o clássico brasileiro que voltou aos cinemas

Já assisti Saneamento Básico, o Filme, sete vezes, mas não por vaidade numérica. É que sempre que indico, acabo revendo. E cada vez, algo novo se revela. É como visitar uma casa antiga com olhos mais atentos aos detalhes: uma rachadura no azulejo que virou poesia, uma fala que antes passou despercebida e agora diz tudo.

O filme, dirigido por Jorge Furtado, está de volta aos cinemas, talvez impulsionado pelo impacto de Ainda Estou Aqui, também estrelado por Fernanda Torres. Mas a verdade é que Saneamento Básico nunca deixou de ser passado. E nunca perdeu a graça.

Saneamento básico, o filme está em cartaz nos cinemas (Imagem: Divulgação)

A trama gira em torno de uma vila fictícia, mas que poderia ser qualquer cidadezinha brasileira, onde os moradores enfrentam um problema básico e urgente: a construção de uma fossa séptica. 

Descobrem que há verba pública para produzir um filme, mas não para obras sanitárias. Então, por que não filmar uma ficção científica que, de quebra, denuncie a realidade?

É aí que Marina (Fernanda Torres) entra em cena. Determinada, sensível e politizada, ela se torna roteirista do projeto. Mas não roteirista de qualquer jeito: Marina mede palavras, revisa expressões, pensa na forma como será ouvida, como se entendesse que, no Brasil, a linguagem também é uma disputa de poder. 

Joaquim (Wagner Moura), seu marido, é o suporte que muita gente gostaria de ter: acredita no trabalho da Marina, colabora com ideias e a incentiva a seguir. Os dois formam um par que se apoia e se escuta. Ele não tenta tomar o protagonismo. Ele fortalece.

Sirlene (Camila Pitanga), irmã de Marina, é outro exemplo de personagem que surpreende. Vaidosa, sempre presente no salão, ela é inicialmente subestimada, mas demonstra que saber e beleza não se excluem. 

Fabrício (Bruno Garcia), o namorado de Sirlene, é o tipo de cara que tem recursos, inclusive uma filmadora, mas não tem consciência de classe. Mesmo assim, sua câmera acaba sendo fundamental. 

Paulo José, interpretando Otaviano, prefeito aposentado, pai de Marina e Sirlene, é pura densidade emocional. Um senhor que já viu de tudo, cansado de promessas e que olha o projeto da filha com certa melancolia. 

Tônico Pereira, como Antônio, amigo de Otaviano, traz um toque trapaceiro, malandro, cheio de jeitos e jeitinhos. É o tipo que existe em toda cidade pequena: faz contato com a prefeitura, se envolve com as decisões, mas sempre tem um olho nas oportunidades pessoais. 

E temos Lázaro Ramos como Djalma, o técnico do telecentro da vila, um verdadeiro faz-tudo da produção: assume funções de câmera, som, edição, roteiro e o que mais for preciso. Djalma é um gênio da gambiarra e da sobrevivência.

E claro, não podemos deixar de mencionar Janaína Kremer, que interpreta a funcionária da prefeitura encarregada de explicar a bizarrice burocrática: há verba para filme, mas não para fossa. Sua atuação é certeira, quase cirúrgica. 

Cada personagem é um espelho de algo maior: o Brasil das soluções inventadas, dos mutirões improvisados, das promessas que escorrem, assim como o esgoto sem canalização. O que une todos eles é o coletivo. 

A improvisação. A vontade de resolver algo concreto usando a ficção. Enfim, viajante, entre risadas, quimeras e roteiros comunitários, a gente esquece que aquilo tudo não é uma cidade real... ou será que é? 

 

Onde foi gravado Saneamento Básico, o Filme?

Embora Vila Cristal seja um lugar fictício, os cenários que emprestaram corpo e alma à história são absolutamente reais. Cada cena do filme carrega consigo a simplicidade e a beleza de cidades da Serra Gaúcha, localizadas no Rio Grande do Sul. Ao assistir ao longa, é difícil não sentir que já estivemos naquele lugar, tamanha é a autenticidade das locações escolhidas.

A cidade principal onde se passa a maior parte das cenas é Monte Belo do Sul. Com pouco mais de dois mil habitantes, ela parece ter parado no tempo, não por estagnação, mas por preservar sua essência. 

As ruas de paralelepípedo, as casas de arquitetura colonial italiana e os vinhedos que desenham o horizonte compõem um cenário que dá vida às tentativas do grupo de moradores em resolver um problema que atravessa gerações: a ausência de saneamento básico.

Além de Monte Belo, o filme também utilizou espaços da cidade de Santa Tereza, especialmente para as ambientações internas, como as casas, os comércios e os corredores estreitos que remetem ao interior do Brasil. Suas ruas históricas completam o quadro com um toque nostálgico, quase teatral.

Já a cidade de Bento Gonçalves serviu como base logística para a produção e, indiretamente, como inspiração cultural. Conhecida como um dos berços do enoturismo brasileiro, ela oferece uma infraestrutura sólida e uma rica herança italiana, elementos que certamente contribuíram para o longa de Jorge Furtado.

A escolha dessas cidades não foi aleatória. Há uma busca pela identidade local, pela fala, pelas expressões, pela paisagem que conversa diretamente com o que está sendo denunciado. E nesse caso, mesmo com um elenco de peso, é o Brasil profundo que brilha no pano de fundo.

Foto de Lucas George Wendt na Unsplash

Por dentro dos bastidores: o turismo que nasce do cinema

Ao assistir Saneamento Básico, é impossível não sentir vontade de andar pelas mesmas ruas por onde Marina, Joaquim e os outros personagens caminham. É como se a ficção abrisse espaço para um novo tipo de turismo: aquele que busca nos bastidores da arte uma forma de experienciar o Brasil por outro ângulo.

Imagine estar em Monte Belo do Sul e percorrer, devagar, as ruas de pedra onde a protagonista reflete sobre como escrever seu roteiro e, indiretamente, sobre como se expressar diante de um sistema que marginaliza. É o tipo de passeio que convida não apenas a observar, mas a sentir.

Ao visitar uma vinícola local, é possível lembrar da cena em que Sirlene, personagem de Camila Pitanga, fala com doçura e firmeza sobre cabelo, beleza e saberes. O salão em que ela passa tanto tempo, à primeira vista trivial, revela-se espaço de escuta, memorização e resistência.

Sentar-se em algum coreto ou praça e imaginar Joaquim, interpretado por Wagner Moura, animando a equipe com suas ideias improvisadas, é um exercício de sensibilidade. Não se trata apenas de ver os lugares, mas de se deixar atravessar pela narrativa que eles ajudaram a contar

Nos bastidores, há ainda curiosidades que enriquecem essa experiência. O diretor Jorge Furtado, natural de Porto Alegre, sempre fez questão de filmar no Rio Grande do Sul. Isso torna os cenários não só autênticos, mas também íntimos. 

Esse turismo de bastidor é mais do que visitar locações. É sobre sentir o país por uma lente que mistura ficção, memória e denúncia.

A fossa coletiva e o retrato de um Brasil em movimento

Mais do que uma comédia, Saneamento Básico é uma metáfora potente sobre as estruturas que permanecem negligenciadas em nosso país. A fossa que precisa ser construída pela comunidade não é apenas literal, ela representa a urgência de um direito básico negado há gerações.

A denúncia, porém, não vem acompanhada de pessimismo. Ao contrário: o filme mostra que, apesar dos entraves burocráticos, da falta de verba e do desinteresse do poder público, ainda há espaço para articulação coletiva, afeto e invenção. É sobre um Brasil que, mesmo com todos os desafios, continua caminhando e criando.

Em tempos em que o saneamento básico ainda não é uma realidade para milhões de brasileiros, revisitar esse filme nos lembra que a arte tem o poder de iluminar problemas que se naturalizaram. Ela também aponta caminhos: a união, o riso, a crítica e a coragem de colocar a mão na massa.

Porque no fim das contas, Saneamento Básico é um filme dentro de um filme, e ambos revelam um país que ainda precisa escavar muito para florescer, mas que já aprendeu a transformar o barro em roteiro.

BÔNUS: O que fazer nos lugares onde Saneamento Básico, o Filme foi gravado?

Se assistir ao filme dá vontade de mergulhar naquele cenário, saiba que isso é possível e melhor ainda: é altamente recomendável. Aqui vai um mini roteiro para quem deseja conhecer  Monte Belo do Sul, Santa Tereza e arredores com olhos de quem sabe que o cinema também é uma forma de caminhar.

Bento Gonçalves:

Bento Gonçalves é muito mais do que destino turístico, é um convite para viver um ritmo que mistura tradição, sabor e natureza em perfeita harmonia. Conhecida pela diversidade cultural e gastronômica, a cidade brilha especialmente durante o outono e inverno, quando o friozinho convida para experiências que aquecem o corpo e a alma.

Seja no passeio de Maria Fumaça, no charmoso CIAO Bus, ou caminhando pelas ruas do centro histórico, há sempre algo novo para descobrir. A estimativa da Segh Região Uva e Vinho aponta para uma ocupação hoteleira de 65% nesse período, o que mostra como o turismo tem retomado força com a retomada das atividades.

A gastronomia, claro, é protagonista: vinícolas abertas para degustações, agroindústrias com produtos fresquinhos e restaurantes que combinam pratos regionais com vinhos de excelência. E para quem prefere momentos mais tranquilos, sentar-se perto de uma lareira e simplesmente apreciar a paisagem já é um programa perfeito.

Passeio de Maria Fumaça: Imperdível para sentir o clima da região e curtir paisagens incríveis. Dica: escolha os assentos do lado direito do trem para melhores vistas das vinícolas e vales.

Monte Belo do Sul:

Monte Belo do Sul é uma pequena joia escondida na Serra Gaúcha, com pouco mais de dois mil habitantes, que guarda a alma das tradições italianas e um ritmo de vida que parece desacelerar o relógio. 

Suas ruas de paralelepípedo, as casas coloniais coloridas e os vinhedos que abraçam o horizonte criam um cenário perfeito para quem busca conexão com a natureza e com a história.

Aqui, o tempo é marcado pelas estações das parreiras e pela colheita da uva, que transforma a paisagem em um espetáculo de cores durante o outono. 

Os visitantes podem se perder entre vinícolas familiares, que abrem as portas para degustações íntimas, onde cada taça conta uma história de dedicação e paixão pela terra.

Além das paisagens, o contato com moradores que mantêm vivas as tradições locais transforma qualquer passeio em uma imersão cultural. 

É o lugar ideal para quem quer sentir o pulsar do Brasil profundo, respirando ar puro e apreciando a simplicidade que se revela em cada detalhe.

Passeio pelos parreirais: Se for no outono, não perca o espetáculo das cores nos vinhedos. Vale a pena agendar uma visita guiada em alguma vinícola familiar para entender todo o processo da produção de vinho artesanal.

Santa Tereza:

Santa Tereza encanta por sua atmosfera quase teatral, com ruas estreitas, casas antigas e comércios que preservam o charme do interior brasileiro. 

Muito além das cenas do filme, a cidade oferece aos visitantes um convite para caminhar devagar, observar as fachadas coloridas e ouvir o burburinho das conversas que ecoam pelos cafés e salões de beleza.

Entre uma parada e outra, é possível sentir a força das histórias de resistência e identidade que permeiam o local, lugares como o salão onde Sirlene passa horas, e que hoje ainda é espaço de encontros e trocas entre moradores. Santa Tereza é um retrato vivo de uma comunidade que valoriza a cultura, a memória e o afeto.

Para quem busca uma experiência autêntica, a cidade tem pequenos restaurantes com cardápios caseiros e um atendimento caloroso que faz o visitante se sentir em casa. É o tipo de lugar para se desconectar do ritmo acelerado e se reconectar com o essencial.

Rever Saneamento Básico, o Filme é lembrar que o Brasil real pulsa em cada detalhe dessa ficção. Gravado em cidades que preservam sua essência, o longa segue atual ao unir crítica social, humor e afeto. E mais: transforma o cinema em convite para visitar um país que resiste na criatividade do seu povo.

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